Resenha: Tudo é Rio

Resenha: Tudo é Rio

De Carla Madeira.

Tudo é Rio é a obra de estreia da autora Carla Madeira, que foi primeiramente lançado em 2014 e relançado em 2021 em meio a pandemia, fato esse, que muitos associam ao seu sucesso.

Carla foi, segundo a editora Record, a autora que mais vendeu livros de ficção em 2021. Após o sucesso de Tudo é Rio, lançou mais 2 romances, A Natureza da Mordida e o mais recente, Véspera.

Tudo é Rio figura entre os livros mais vendidos da Amazon BR desde o seu lançamento.

A obra discute temas polêmicos em sua essência. Expõem tragédias, dor, perdão e talvez, redenção dos personagens apresentados. Tudo isso, envolvido em uma escrita simples, convidativa e poética.

O romance se passa em uma cidade pequena sem nome do interior do Brasil. Temos como protagonistas Dalva e Venâncio, que eram vistos como o casal mais apaixonado da cidade, até tudo mudar.

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Dalva é filha de Aurora e Antônio e tem duas irmãs. Cresce em um lar repleto de amor e carinho, amigos, festa e música. Sua mãe Aurora sempre foi muito cuidadosa e disciplinadora, colocava as filhas para auxiliarem em todas as tarefas da casa, dentre elas, levar as empadas feitas por Aurora, para a venda do pai, Antônio. Em uma dessas idas, Dalva conhece Venâncio, que trabalhava na marcenaria do pai. Lembra que quando eram mais novos, foram bons amigos e sente vontade de se aproximar, ao se aproximar, os dois acabam se apaixonando.

“O amor tem nome, mas não é nada que a gente possa reconhecer só de olhar. A dor a gente sabe o que é, tem lugar e intensidades que cabem na ciência. A raiva, o medo, o ódio entortam a cara com um jeito provável de se manifestar. Mas e o amor? O que é senão um monte de gostar? Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de ouvir, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo.”

Venâncio tem uma criação difícil e um pai muito duro em casa, que era uma pessoa inacessível e demasiado amarga. Sua mãe, Inês, decide lhe mandar para a casa da irmã para o proteger. Venâncio acaba retornando para a cidade quando seu pai, José, adoece, para cuidar da marcenaria da família, onde reencontra Dalva após anos.

Em outra cidade, acompanhamos o crescimento de uma outra personagem importante para o enredo, Lucy, que era uma menina extremamente bonita e atraente. Lucy perde os pais ainda criança e vai morar na casa de sua tia, que já possuía família. Lucy cresceu sempre sendo a preterida da tia, não conhecia seu carinho, apenas piedade, o que gera revolta na menina. Lucy decide então se tornar prostituta para ser dona de si e pôr todos os homens que desejasse ao seus pés, inclusive seu tio Brando. A traição de Brando com Lucy é descoberta pela tia que acaba por expulsar a garota de casa.

No entretanto, Dalva engravida e isso resulta em um “afastamento” de Venâncio, que não recebe o fato com bons olhos. Uma tarde de repente quando chega em casa e vê Dalva amamamentando a criança, tem um ataque de ciúmes, arrancando o bebê com força de seus braços e aplica uma tremenda surra em Dalva.

Depois desse acontecimento, Dalva e Venâncio viram seu relacionamento padecer em silêncio, sofrimento e agonia.

“Com a dor, o silêncio. Denso, ácido. Estagnado. Um silêncio de caco de vidro moído esfoloando o corpo por dentro. Um desesperar, nada por vir.”

Enquanto sofriam em um silêncio desesperador, o casal procurou formas de seguir a vida. Dalva se dedicava a longas caminhadas diárias, retornando a casa somente ao entardecer. Já Venâncio, resolveu curar sua dor no prostíbulo da cidade.

Foi nesse local que conheceu Lucy, a puta mais desejada, havia filas e filas de homens para dormir com ela. Lucy escolhia a dedo seus clientes sortudos.

Após ser rejeitada por Venâncio, Lucy cria uma obsessão por ele, gera a necessidade de levá-lo para cama para “lavar sua honra” de puta. Depois de muita insistência, acaba conseguindo dormir com Venâncio e assim, se apaixona. Dormem mais algumas vezes juntos e Lucy acaba engravidando. Venâncio surta novamente com a notícia, mas Dalva intervém impedindo que outra tragédia acontecesse.

Lucy, para poder continuar se dedicando a sua carreira de prostituta, decide dar seu filho para Dalva que seria uma boa mãe. Com o bebê recém nascido nos braços, Dalva decide não querer sofrer mais.

E, no último ato do livro, a grande surpresa e reviravolta, Dalva se perdoa e aparentemente, perdoa Venâncio.

“Tudo passa, você vai ver, tudo passa. Ela tinha razão. A vida dá um jeito de manter a gente vivo mesmo quando a gente morre de dor.”

Tudo é Rio, é uma obra que nos faz questionar o limite do perdão e da dor. É uma história fictícia muito parecida com a realidade de países pobres e inclusive com o interior (e não só) do Brasil.

Um casal apaixonado e admirado por todos seu vizinhos vê sua vida mudar após um ataque de ciúmes de Venâncio, que põem todo amor de Dalva a perder.

Aqui, pequenos detalhes são nos dados de tamanha tragédia e a autora arrasta o mistério até o final da obra. Durante a remontada de Dalva, a prostituta Lucy muda-se para cidade e após ser rejeitada por Venâncio, acaba se tornando obcecada pelo homem. Por fim Lucy consegue dormir com Venâncio (muitos consideram por esse motivo que a obra trata-se de um triângulo amoroso, fato que eu discordo fortemente) e acaba engravidando. Entende que um filho mudaria toda sua vida, encerraria sua carreira de prostituta e acaba entregando o filho para Dalva.

Dalva ao receber a criança em seus braços percebe que é hora de deixar para trás tanta dor, acredita que é hora de viver de novo, “perdoando” assim Venâncio.

Carla Madeira foi corajosa ao escolher um tema tão complexo para sua obra inicial. A autora têm recebido muitas críticas de pessoas que aparentemente não conseguiram separar a ficção da realidade (embora como mencionado antes, a história pode ser acompanhada em bairros pobres de todo o mundo). Muitos acreditam que a autora romantiza a violência por sugerir que Dalva perdoe Venâncio, homem e “algoz” de sua dor.

O texto tem escrita leve e fluida mas, o seu conteúdo é extremamente pesado e denso. Trata-se de um livro pequeno, porém de difícil leitura em um fôlego só, precisamos de pausas durante o processo para assimilar as mensagens que a autora nos quer passar através das dores das personagens.


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