Resenha: Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei

Por Paulo Coelho.

Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei é uma obra de Paulo Coelho e foi
publicado primeiramente no Brasil em 1994, pela Editora Rocco. Atualmente foi relançado pela Editora Paralela.

Paulo Coelho ocupa a 21° cadeira da Academia Brasileira de Letras em reconhecimento a sua vasta contribuição para com a literatura brasileira. Em 2003 e 2009 entrou para os livros dos recordes, o Guinness World Record, como o autor mais traduzido para outros idiomas com o livro O Alquimista. Além disso, é um dos autores vivos mais lidos da língua portuguesa.

O livro apresenta a história de amor de dois jovens amigos em Sória, uma cidade pequena no interior da Espanha, que se separam e se reencontram após 11 anos. Ele como um seminarista e ela como uma cética trabalhadora cotidiana.

A obra, que se passa durante uma digressão de palestras do seminarista, aborda temas como amor, esperança, fé e espiritualidade. É marcada por passagens fortes e consideráveis lições de vida e ao mesmo tempo, é envolto por uma escrita simples e de fácil leitura.

“Procure viver. Lembrar é para os mais velhos, dizia ele.”

Acompanhamos dois jovens amigos de infância que se separam e acabam por
seguir jornadas distintas na vida. Ele é um aventureiro nato, tem ânsia de descobrir o mundo e seus segredos, visitar novos povos e novas culturas, ter todas as experiências possíveis. Ela já é mais conservadora, prefere terminar seus estudos em sua pequena cidade antes de mudar-se. Procura por estabilidade, família e um cargo bom, de preferência com a garantia de algum concurso público.

Após a “separação”, Pilar segue com sua vida normal, trabalhando para pagar seus estudos. Agora morando em Saragoça, segue com sua rotina monótona e bem planejada, sem muitos espaços para aventuras ou incertezas.

Ele, ao decidir viajar o mundo, faz questão de lhe enviar postais dos lugares por onde passava para assim seguirem nutrindo a amizade. Ele, agora mais maduro, revela para ela que gostaria de entrar para o seminário, Pilar opina dizendo achar ser cedo e o aconselha a aproveitar um pouco mais sua liberdade. Apesar de seu posicionamento, ela não obtém resposta e ele some por algum tempo.

“É preciso correr riscos, dizia ele. Só percebemos realmente o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça.”

Durante uma viagem para palestrar em Madrid, ele a convida para assistir. Pilar fica surpresa pelo convite e por poder reencontrar o velho amigo. Ela fica admirada pelo fato de que mesmo ele sendo muito jovem, conseguia arrastar multidões para o acompanhar, conseguindo prender a atenção de todos.

Ele a convida para seguir viagem até Bilbao, onde palestraria de novo, e como estava de folga, ela acaba aceitando. A cada parada, mais e mais fiéis juntavam-se a ele. Pessoas pedindo por sua benção, sua cura e sua ajuda. Pilar, sem entender nada, acaba se assustando com toda aquela adoração. Ele a leva para jantar com os fiéis, explica um pouco o roteiro que estaria fazendo a trabalho e que seguiria digressão de palestras até a França, e como estava começando a semana de Feriados, resolve convidá-la para o acompanhar. Pilar reluta, tendo em vista que deixaria toda a segurança de sua casa por alguns dias, mas acaba por aceitar.

A viagem foi uma verdadeira tortura e mal-estar, mal se falaram, e Pilar já estava arrependida. Durante uma pausa na viagem, ele a devolve uma medalha que havia ganhado dela na infância e junto com esse ato, diz que a amava. Pilar ficou atônita e o responde dizendo que aquilo não era possível que o que ele amava era uma lembrança do passado e não tocam mais no assunto. No decurso da viagem, vão parando pelas montanhas e conversando sobre suas escolhas e religião, ele revela que acreditava na face feminina de Deus, que essa, seria a Deusa Maria, a Virgem.

Em meio a aventura e com essa nova oportunidade de conhecer melhor o mundo de seu amigo, Pilar nota estar começando a sentir algo por ele, mas esforça-se para espantar aquele sentimento. Os dois enfim chegam em Saint-Savin, França e ele conta sobre “o exercício do outro” para ela. Que consistia em nos libertarmos daquele que não somos, mas que nos ensinaram a ser, e que acabávamos incorporando essa personalidade para agradar aos outros ou para nos protegermos dos medos da vida real. Falam novamente sobre o amor. Ele lhe explica que tem algo importante para lhe mostrar naquelas montanhas, mas ainda guarda mistério. Expõe a história do seu caminho e que havia perdido e recuperado a sua fé durante seu tempo de aventureiro. Explica sua fé para ela e que Deus tem uma face feminina, a da Deusa Virgem Maria, e que a forma que ela se manifestava era através da água.

Narra como a Imaculada Conceição aparecia para ele e que além de vê-la, ele conversava com ela e por essa razão decide tornar-se seu discípulo. Após todas essas revelações, Pilar acaba por perceber estar se apaixonando e querendo viver esse amor e a servidão à Deus e à Deusa ao lado dele. Tem medo, pois conhece o poder destrutivo do amor.

“O amor nunca vem aos poucos. No dia anterior, o mundo tinha sentido sem que ele estivesse presente. Agora, eu precisava que ele estivesse ao meu lado para poder ver o verdadeiro brilho das coisas.”

Apreciam o dia nas montanhas nevadas de Saint-Savin e ele então conta o real motivo de tê-la trazido para a cidade. Havia uma casa que fora herdada por seu monastério de uma fiel que havia falecido recentemente. Ao fazer o inventário, ele percebeu que aquela senhora tinha o mesmo gosto que o dele e começou a se imaginar vivendo ali com Pilar, quando seu superior ficou sabendo da história, arranjou sua viagem até a Espanha para que ele a encontrasse e inclusive cede a casa para que os dois pudessem viver lá por um tempo. Ele então lhe entrega a chave da casa e vai para o seminário rezar.

Pilar decide conhecer a casa que ele havia falado e no meio do caminho encontra o padre superior. O padre lhe informa que ele possuía o dom da cura e por isso era seguido pelos fiéis. Expressa que teme pelo seu futuro, pois ele acabava se doando muito pelo futuro da humanidade. Pede para ela o dissuadir dessa ideia através do seu amor. Pilar nega o pedido do padre, não acha justo interferir entre ele e sua comunhão com o Divino.

De regresso à Espanha, Pilar pede a ele para visitarem o Mosteiro de Piedra, que era o local aonde iam na infância. Lá, ele confessa para ela que havia pedido a Deusa para retirar o seu dom, para que os dois pudessem viver servindo a Deus de outra forma e pudessem ter uma vida normal. Pilar fica desolada, pois havia se preparado para estar firme ao lado dele seguindo na sua missão de “curar o mundo”, acaba saindo do mosteiro no meio da noite e se perdendo dele.

Ela é resgatada pelo porteiro do mosteiro, quase sem vida, pois acabara dormindo ao relento no frio. De volta ao mosteiro, sob os cuidados de uma senhora, acaba por sentar todos os dias, enquanto recuperava suas forças, a beira do rio escrevendo e chorando. Finalmente ele consegue encontrá-la. Ela o entrega o manuscrito que acabara de escrever. Após lê-lo, ele a agradece por devolver sua fé e os dois juntos decidem aceitar sua missão de servir a Deus e a Deusa pelo mundo.

“Na margem do Rio Piedra eu sentei e chorei”.

Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei é uma obra de fácil leitura. Envolvente desde seu início, a trama aborda um amor esquecido e pouco provável entre jovens amigos há muito tempo afastados, mas que após um reencontra e uma viagem durante um feriado santo, acabam por voltar a se envolver.

O romance é um caminho cheio de obstáculos para os dois, ele tem que decidir entre a vida religiosa e o seu dom e ela, seu amor de infância. Enquanto ela tem de decidir se se entrega a esta aventura desafiadora ou volta para segurança de sua vida estável.

Paulo Coelho nos mostra que com amor e fé, é possível superar tais obstáculos e vencer lutas interiores.

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