Resenha: Agonia do Eros

Resenha: Agonia do Eros

Por Byung-Chul Han.

Byung-Chul Han é um filósofo contemporâneo sul coreano radicado na Alemanha. Ele se propõe a analisar as estruturas da sociedade do século 21 e a suas interações.

Agonia do Eros, é dividida em sete capítulos: Melancolia, Não-poder-poder, O mero viver, Pornografia, Fantasia, Política do eros, O fim da teoria. A obra é uma reflexão atual sobre o adoecimento de nossa sociedade, do amor e de sua sexualidade.
Fala da sociedade do cansaço e da sua autoexploração, sob influência dos ilimitados meios de obtenção de prazer momentâneos, acabando por se afastar de uma interação com o outro-diferente (negativo) e parte em busca de um outro igual (positivo).
A relação com o outro é sempre "caos e desordem" que nos obriga a pensar, repensar e transformar, ressignificando o nosso viver biográfico.

"Num mundo de possibilidades ilimitadas, o amor não tem vez."

Reforçando assim personalidades egóicas e egoístas, o amor erótico dá lugar a pornografia, que busca o mero viver exposto.

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Han expõe a dificuldade do amor erótico em um mundo com possibilidades infinitas com outros "outros" e liberdade absoluta. Seria um contrasenso, tendo em vista que quanto mais interações se pode ter, mais alteridades são conhecidas, porém mesmo com possibilidades infinitas e ilimitadas, acabamos trocando experiências e nos relacionando com pessoas iguais, que reforçam nossos comportamentos. Pessoas que reforçam o nosso “eu”. Os relacionamentos viram bens consumíveis.

"Hoje em dia, o amor é positivado numa fórmula de fruição. Ele precisa gerar setimentos agradáveis. Ele não é uma ação, uma narração, nem sequer é mais um drama; antes não passa de emoção ou excitação inconsequente. Está livre da negatividade da vulneração, do assalto ou derrocada."

Com o avanço da não aceitação do outro atópico (negativo), o mundo acaba caminhando para uma positivação narcisista do outro, ou seja, a alteridade do outro desaparece em troca de positividades narcísicas, perdendo todas as possibilidades subjetivas do contato com o outro. Não se busca mais o embate de ideias, se o "outro-diferente" discordar de meu pensamento, não dialogo com ele e sim busco o "outro-igual" que pense exatamente como eu e me dê razão.

A internet nos leva a estar constantemente comparando tudo e todos, o tudo com tudo. Nos leva a ser atraídos pelo igual, seja igual a experiências que já tivemos ou igual a algo que sempre buscamos. Eliminando assim negatividades.

As redes sociais e o mundo multimídia nos levam a comparar o outro com expectativas que criamos dele, não aceitando a sua estranheza, estranheza aqui como diferença e negatividade. A informação desconstrói a negatividade do outro.

Na era tecnológica de tanta informação sobre o outro, não o idealizamos ou criamos fantasias a seu respeito, escolhemos dentro de uma gama infinita de possibilidades a relação de forma mais racional possível, a relação mais positiva para nós. Nos fechamos para o outro, assim como o outro se fecha para a nós.

"A sociedade da positividade, donde se ausentou a negatividadae da morte, é uma sociedade do mero viver, dominada pela única preocupação de assegurar a sobrevivência na descontinuidade. É a vida de um escravo."

A depressão é uma doença narcísica, pois vemos o afogamento em si mesmo, seres egoístas e egóicos se auto afirmando e confirmando no "outro-igual". "A depressão se apresenta como a impossibilidade do amor, ou o amor improvável leva a depressão".

Na sociedade do desempenho, da comparação, é onde a depressão se alastra uma vez que fazemos de tudo sem medir esforços (autoexploração) para nos auto afirmar, expondo o nosso sucesso e superioridade (em nossas cabeças) para o outro. Quando o "sucesso" não é obtido, nossas fotos não são interessantes o suficiente para os outros e a depressão se instaura. Isto acontece, pois para a sociedade do desempenho isso representa um fracasso sem salvação. "A auto exploração é muito mais eficiente que a exploração alheia".

"A sociedade do desempenho está totalmente dominada pelo verbo modal poder, em contraposição a sociedade da disciplina , que profere proibições e conjuga o verbo dever."

Han acredita em eros como antídoto para a depressão e pornografização, pois eros permite a experiência com o outro, a exposição e a ritualização do amor erótico, conquista e aceitação. Já a pornografia serve apenas ao mero viver exposto, que reforça a narcisificação do eu.

"O amor erótico é a troca, a aceitação e afirmação do outro atópico."

A Agonia do eros é uma obra que, embora pequena, é de leitura complexa, porém, não impossível. O autor problematiza o desaparecimento do erotismo nos romances contemporâneos, onde os relacionamentos se apoiam em relações de consumo ao invés de afeto. Han afirma que um dos grandes responsáveis para isso é a cultura da comparação advinda das mídias sociais.

O livro ainda, trata de como a autoexploração e a tecnologia nos impulsionam a cada vez mais buscar no nosso estilo de vida, positividades que reafirmem o nosso ego, reforçando assim o nosso eu narcísico. Acompanhamos nas plataformas digitais pessoas vivendo exclusivamente para mostrar e reforçar a "felicidade" de suas vidas, se submetendo a coisas sem limites em troca de "likes" em suas fotos e até mesmo expondo de forma extrema seus corpos (a pornografização).

Ao final, Han mostra acreditar que o amor é o antídoto para essa crise contemporânea. Não o amor pornográfico, mas sim o amor que nasce da relação de dois "eus" subjetivos, diferentes, que surgem novos dessa interação. O eros conduz e seduz  o pensmento pelo intransitado, pelo outro.

"O eros vence a depressão."

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