Resenha: O Banqueiro Anarquista

Resenha: O Banqueiro Anarquista

De Fernando Pessoa.

Quem conhece Fernando Pessoa sabe que ele é famoso por seus vários heterônimos, sendo os mais conhecidos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares. No entanto, em "O Banqueiro Anarquista", encontramos algo diferente: um monólogo disfarçado de diálogo entre o autor e o banqueiro. diálogo este que é repleto de ironias, teorias políticas e uma certa dose de contradição, que, no final, pode fazer sentido para alguns... Ou não.

O texto é uma conversa simples entre o amigo e o banqueiro, que se inicia após o jantar. No começo, não poderia começar de outra maneira que não com o amigo questionando: "Como pode um banqueiro ser anarquista?" Prontamente, o banqueiro não só afirma que é anarquista, mas também utiliza toda uma lógica para mostrar ao amigo que é mais do que um falso anarquista; ele é um verdadeiro anarquista, que não vive apenas de teorias.

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O banqueiro demonstra ao amigo sua perspectiva baseada em tudo que passou na vida e cita as ficções sociais, que são questões criadas socialmente e que sobrepõem às realidades naturais, desde família, dinheiro, religião e estado, citando que não nascemos para ser ricos ou pobres, católicos ou protestantes, para falarmos português ou francês. São essas coisas que nos mantêm presos, porque todas elas são provenientes das ficções sociais e não são naturais, ele também cita que até o ato de tentar abolir todas essas ficções, que seria o puro sistema anarquista, também é uma ficção.

Ainda sobre as ficções, o amigo questiona o banqueiro qual seria a ficção mais natural, vendo nisso uma possível solução. O banqueiro sabiamente responde que nenhuma ficção é natural. Para cada pessoa, o natural é aquilo que sentimos que é natural, aquilo a que nos habituamos, tudo dependendo do nosso ambiente.

"O processo visa ao conseguimento da liberdade; ora eu, tornando-me superior à força do dinheiro, isto é, libertando-me dela, consigo liberdade."

Após entender as questões das ficções, o amigo indaga ao banqueiro algo que talvez todos nós estejamos nos perguntando: O que é ser anarquista? Novamente, o banqueiro responde de maneira sábia: "A liberdade", estar livre da pressão das ficções sociais. O que é natural não podemos mudar, mas aquilo que socialmente nos aprisiona é onde podemos trabalhar para fazer a diferença.

O banqueiro, após análise, afirma que cada um, por suas próprias forças, deveria criar sua liberdade e combater as próprias ficções sociais. Provando que mesmo um grupo de anarquistas juntos são capazes de criar as suas próprias ficções, fazendo com que o verdadeiro anarquismo nunca seja aplicado. Sozinho e sem que ninguém o seguisse, ele criou sua própria liberdade, trabalhando duro durante anos até se tornar um banqueiro e libertar-se das ficções sociais. Sabendo que se ele foi capaz de fazer isso, outras pessoas também seriam, se tornando assim livres e verdadeiros anarquistas.

"É que o meu processo, que é, como lhe provei, o único verdadeiro processo anarquista, me não permitiu libertar mais. O que pude libertar, libertei "

Com menos de 100 páginas, "O Banqueiro Anarquista" é, sem dúvida, uma obra muito divertida escrita por Fernando Pessoa. Como mencionei no início desta resenha, o texto está repleto de teorias e ironias políticas que podem até fazer sentido. Se você é do tipo de leitor que gosta de uma pitada de política em tudo o que lê, com toda certeza irá adorar este livro.

Eu particularmente, gostei muito do conceito de ficções sociais que Fernando Pessoa cita, assim como da ideia de que a única forma de ser "livre" é dominando aquilo que te domina. No exemplo do banqueiro anarquista, era o dinheiro que o "atrapalhava" de exercer o anarquismo em sua totalidade. Uma vez banqueiro e tendo dinheiro suficiente, o "problema" não o dominava mais. Logo, ele podia se tornar um anarquista de verdade e não apenas alguém que se dizia ser anarquista. Mas é claro, essas são questões que, dependendo de quem estiver lendo, podem ser consideradas como verdadeiras, mas não esqueça: Fernando Pessoa gosta de uma ironia.

Libertei um. Libertei-me a mim.

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