Resenha: Frankenstein ou o Prometeu Moderno

Resenha: Frankenstein ou o Prometeu Moderno

Por Mary Shelley.

Frankenstein é um clássico da literatura. Considerado por muitos como sendo uma das obras pioneiras de romance de ficção científica e terror. Foi escrito por Mary Shelley em sua adolescência, a autora tinha 18 anos quando escreveu a obra.

Em 1816, conhecido como “O ano sem verão”, reuníam-se em um chalé a beira de um lago em Genebra, Mary Shelley, Percy Shelley, que na época ainda não era seu marido, Lorde Byron, a meia-irmã de Mary e o médico de Byron. Dada a situação climática, os amigos passaram a maior parte da estadia em Genebra, em volta da lareira lendo contos de terror alemães. Destes encontros literários surge o desafio proposto por Lorde Byron para que todos ali presentes escrevessem um conto de terror, as obras seriam equiparadas e a melhor venceria.

Durante um pesadelo, Mary sonha com uma criatura horrenda que havia sido reanimada e que assombra seu criador. Ao acordar, estava horrorizada e logo se convenceu que todos também ficariam. Nasce dai então a ideia de Frankenstein.

Frankenstein ou o Prometeu Moderno, expõem a busca desmedida de um cientista muito ambicioso em descobrir a origem da vida ou o poder de dar vida a matéria morta. Ao longo da trama é explorado a relação criador e criatura e temas que despertam a curiosidade humana, como por exemplo o domínio das ciências naturais, o poder de dar vida a matéria inanimada e a necessidade de feitos grandes para não cair no esquecimento.

O primeiro capítulo nos apresenta o jovem explorador Robert Walton, navegando por mares desconhecidos e perigosos, desbravando águas misteriosas rumo ao Polo Norte. Trata-se de um jovem muito culto e empenhado, autodidata é verdade, porém muito sábio e engenhoso.

Durante sua expedição troca cartas com sua irmã, Sra. Saville, a quem tem grande apreço e carinho. Confessa sentir solidão e a necessidade de ter um amigo para acalmar a alma e harmonizar seus pensamentos.

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Em suas últimas cartas para a irmã, não relata nada de novo ou surpreendente, até que uma noite com o navio preso em uma geleira, avista a figura de um homem andando de trenó puxado por cães em direção ao centro daquele monte de neve, até perder-se de vista. Mais tarde no mesmo dia, resgatam do mar um estranho quase deixando a vida.

O sobrevivente era Victor Frankenstein, que fora resgatado de alto mar em estado deplorável, após sofrer um acidente em sua perseguição. Com seus sentidos recuperados, mas com a saúde ainda debilitada, Victor e o capitão começam a tornar-se amigos íntimos e compartilhar histórias. O jovem explorador acabara de encontrar o amigo que tanto buscara.

Walton, o capitão, revela então sua ambição e ânsia de sair do anonimato, fazendo ou trazendo a tona descobertas nunca imaginadas.

Eis que o estranho enxerga nele sua ambição refletida. Com medo de que o jovem acabasse encontrando mesmo desfecho que o seu, resolve revelar sua história, o mal que lhe ocorrera e o pusera naquela situação miserável lutando pela vida.

“Homem infeliz! Compartilha de minha loucura? Também sorveu um líquido intoxicante? Ouvi, deixai-me revelar minha história e você arrancará a taça de seus lábios!”

Victor narra sua infância feliz e bem sucedida em Genebra, ao lado de pais amáveis, de célebres personagens e de Elizabeth, que era sua “prima” ou irmã adotiva, a qual nutria grande amor e admiração. Victor e Elizabeth foram prometidos um para o outro ainda na infância.

Frankenstein foi desde pequeno um inquieto pesquisador, despertado pelos mistérios jamais antes explicados por outros pensadores das ciências naturais.

Os segredos da terra e do céu, os mistérios do metafísico eram sua busca incansável desde criança.

Muda-se para Alemanha para começar seus estudos universitários. Antes de sua partida, vivência sua primeira grande perda, sua mãe falece antes de sua viagem. Já em Ingolstadt,  conhece seu tutor que o apresenta novos filósofos, com teorias mais modernas das que era habituado. Victor também era um grande amante do Galvanismo

Talvez influenciado pela perda da mãe e por sua curiosidade sem tamanho, Frankesntein se torna obcecado pelo desejo de desvendar a criação humana, imerge por meses em seu laboratório em casa, compromete sua saúde na busca por esse conhecimento. Começa então seu projeto para dar vida à um ser construído à partir de membros de cadáveres humanos.

“Quero revelar os mistérios mais profundos da criação.”

Em uma fatídica noite chuvosa de novembro, finalmente conclui seu projeto, e em meio a tempestade, acaba conseguindo dar vida à “coisa”.

Dr. Frankenstein vê a criatura mexer-se convulsivamente enquanto despertava e abria seus olhos amarelos para fitá-lo. Apavorado em meio a catástrofe que acabara de testemunhar, Victor foge sem olhar para trás e abandona sua criação à própria sorte.

Durante sua fuga, Frankenstein encontra Clerval, seu melhor amigo. Clerval percebendo a situação frágil da saúde de seu amigo, decide ficar para cuidá-lo. Enquanto recupera sua saúde, Victor recebe uma carta de Genebra de sua família avisando da morte de seu irmão William. No caminho para casa, Dr. Frankenstein tem a impressão de estar sendo perseguido por uma figura disforme. Logo tem a ideia de que sua criatura era o assassino de seu irmão.

Justine, antiga criada da família Frankenstein é culpada, condenada e executada pela morte de William. Inconformado com tamanha injustiça e sentindo-se muito culpado pela morte de ambos, afinal era o criador da “coisa”, refugia-se nas montanhas de Genebra para buscar paz de espírito.

Em meio ao seu refúgio, enfim, criador e criatura ficam frente a frente e iniciam o primeiro diálogo. A criatura expõe tudo que passou após ser abandonada por seu mestre, todo seu sofrimento e miséria. Conta sua dificuldade para lidar com sentidos e sensações no início de sua existência.

Após ser abandonado pelo criador, a criatura veste-se com as roupas de Frankenstein e sai em busca de acolhimento, mas é recebida com ódio e repúdio. Consegue então se isolar nos bosques, onde aos poucos vai descobrindo seus sentidos sensoriais humanos, como por exemplo, sensibilidade à luz exterior, já que havia sido criada em um laboratório escuro, descobre o frio e o calor dos raios solares, aprende também que sente fome e tem que procurar comida para se alimentar.

Imagem editora Darkside

Por fim acha uma mochila abandonada com livros e roupas enquanto montava seu abrigo ao pé de uma casa de camponeses refugiados franceses. Os observa por um longo período de tempo e por meio dessa observação, desenvolve a capacidade de falar, ler e escrever de forma polida. Decide então ler os livros que achou, Paraíso perdido, Vidas paralelas e O sofrimento do jovem Goethe.

Não aguentando mais sua solidão, resolve se aproximar da família, começando pelo patriarca que era um velho cego. Tem seu primeiro diálogo na vida, e é muito bem recebido pelo estranho, até que o filho do camponês entra em seu quarto e vê a criatura monstruosa, desesperado o ataca na tentativa de salvar seu pai. A criatura foge e se refugia em seu esconderijo. Na manhã seguinte a família se muda da cabana com medo da “coisa”. A criatura então em um ataque de fúria, queima todo chalé. Durante a fuga, ao deitar-se no leito de um rio, acaba por ver sua imagem refletida e finda por assustar-se com sua figura. Descobre em seu bolso do casaco as anotações que Dr. Victor Frankenstein fizera durante o processo de sua criaçao e resolve encontrá-lo afim de fazer exigências, já que nao havia pedido para ser criado e que até mesmo Lúcifer o Anjo caído, possuía seguidores e acompanhantes e ele era só.

A falta de noção de pertencimento da criatura e o sofrimento que o é infligido, comove aos poucos seu mestre.

Dito isso, a criatura continua seu diálogo com Victor e mostrando o que a humanidade o havia feito mal, que sempre tentou demonstrar bondade para com o outro e nunca havia sido bem recebido ou bem tratado apenas por ser diferente.

Conta que acabara matando Wiliam por ter somente ódio em seu coração e o desejo de vingança de seu mestre que o havia abandonado à própria sorte em um mundo nunca visto.

Exige que Frankenstein crie uma companheira, tão horrenda quanto ele para que ambos se façam companhia .Jura que uma vez acabada sua solidão, se refugiaria nos confins das gelerias do ártico, tendo em vista suas capacidades sobre humanas.

Após muita relutância, Victor acaba cedendo e aceitando as exigências da fera, por pensar assim ser melhor para humanidade, uma vez que não conseguiria  combater e dar cabo de uma besta com forças sobre-humanas.

Muda-se para uma ilha pacata a fim de dar inicio ao seu novo projeto. Passa então grande período desenvolvendo seu projeto até que o conclui. No momento que daria vida a nova criatura, Victor se arrepende, temendo o produto que poderia vir a resultar da união dos monstros. Poderia ser o fim da humanidade se duas criaturas poderosas se juntassem.

Destrói seu novo protótipo, porém não sabia que estava sendo observado pelo monstro, que jura vingança e sofrimentos cruéis a Victor e inclusive estaria ao seu lado na noite de seu casamento.

“Lembre-se: estarei com você em sua noite de núpcias”

Após fuga da criatura, Victor decide que é hora de voltar para casa, sua família e casar-se com Elizabeth para tentar trazer um pouco de felicidade para seu pai.

Antes de seu regresso, tem que se desfazer do corpo da criatura que acabara de desmembrar. Escolhe o rio como sua melhor opção. É pego de surpresa por uma tempestade e não consegue retornar à sua ilha.

Navega à deriva a noite toda, quando finalmente atraca pela manhã em um país estranho, no caso a Irlanda.

Assim que desembarca, acaba sendo preso, culpado pela morte de um estrangeiro na noite anterior.

Ao se deparar com o corpo, Frankenstein dá-se conta que tratava-se de Clerval, seu melhor amigo, enfim a coisa estava cumprindo suas promessas. Victor tem um colapso nervoso e cai em estado de coma.

Ao recobrar seus sentidos, é inocentado e levado para casa por seu triste pai.

De volta a Genebra, Victor casa-se rapidamente com sua amada Elizabeth. Em sua noite de núpcias, abandona sua amada no quarto e se arma, pensando que a criatura vinha atrás dele. Ouve um grito de seu quarto e ao adentrar o recinto, descobre que a criatura matara brutalmente sua esposa. Frankenstein desmaia. Ao acordar, organiza buscas atrás da criatura. Sem resultado acaba pedindo ajuda as autoridades que não se mobilizam.

Em meio à toda sua tragédia, Dr. Frankenstein vê seu pai morrer de tristeza. Desesperado, e sem ter a quem mais recorrer, Victor parte em busca de sua vingança. Entra em uma jornada mortal atrás de sua criatura miserável e malígna. Durante a perseguição, passa por inúmeras provações, como fome e frio, sua criatura o estava infligindo sofrimento e o provocando a  todo momento com mensagens.

“Prepare-se! Suas fadigas apenas começaram; envolva-se em peles e consiga alimento, pois logo entraremos em uma jornada em que seus sofrimentos satisfarão meu ódio eterno”

Quando estava avistando a criatura, durante uma perseguição de trenó, o mar de gelo se rompe em torno de Victor, o fazendo perder de vez o rastro da coisa.

Frankenstein fica à deriva em um mar revolto e prepara-se para uma morte medonha quando a vista a embarcação de Walton e é resgatado.

Victor encerra aqui sua narrativa.

Ciente da tragédia de Dr. Frankenstein, Walton mobiliza suas forças para recuperar a saúde de seu novo amigo. Sem sucesso.

Victor já em seu leito de morte, pede para que o capitão finalize sua missão, matando assim o monstro. Se despede e morre.

Walton, desconsolado, volta a escrever para sua irmã. Conta que após uma motinação de sua tripulação, resolve dar fim a sua expedição e voltar a terras seguras. Interrompe sua escrita quando ouve um estrondo do quarto em que jazia o corpo de Frankenstein,

Ao entrar na cabine, se depara com a criatura aos prantos, dizendo-se arrependida. Uma vez alcançado o êxito de missão, que era ver o sofrimento de seu criador, já não havia mais o porquê de existir.

Confessa a Walton que se mataria, pois sem criador, já não mais existia razao para a criatura ter vida. Promete cometer suicídio para livrar-se da agonia de viver.

Assim que termina seu discurso, criatura deixa a embarcação e logo se perde na escuridão.

"Todavia, em breve - brandou com entusiasmo triste e solene - morrerei, e o que agora sinto não terá mais lugar. Logo, essa sina chegará ao fim.”

Ao final da trama, fica o grande questionamento: Quem realmente é o monstro da história?

Victor Frankenstein ultrapassara todos os limites da ciência e da habilidade humana para dar vida não só a uma coisa, mas sim a seus desejos mais egóicos ao querer "brincar" de Deus.

Uma vez criada, a coisa sofreu abandonada e não conheceu mais do que o desprezo de seus “semelhantes” humanos, afinal, mesmo sendo um conjunto disforme de peças, ainda era um ser humano.

Com a leitura de Frankenstein, podemos nos questionar qual é o limite do conhecimento e a nossa responsabilidade perante a tal, e qual o preço que devemos pagar por nossa ganância. Até que ponto o conhecimento é “saudável e responsável”?

Podemos perceber aqui que a maldade da criatura é o produto de todo o processo de rejeição e violência a qual fora exposta. Sabendo disso, podemos a culpá-la?

Dr. Frankenstein tampouco é totalmente inocente ou vítima nessa história. Quando Victor ultrapassou os limites da ciência, em busca de seus desejos, estava ciente que não conhecia o que estava por vir. Não assumiu suas obrigaçãoes e responsabilidades perante a coisa, e o monstro se tornou um ser cheio de ódio com desejos de vingança.

Frankenstein ou o Prometeu Moderno, é uma obra com infinitas possibilidades de interpretação. Você pode mudar de opinião a cada nova leitura. A cadência da escrita, a forma com que é exposta, história dentro de história, pode distanciar o leitor do livro, mas uma vez adentrado o cerne da questão, torna-se uma leitura empolgante e cativante.

Conseguimos problematizar sobre questões como as obrigações entre criador e criatura, princípios do conhecimento perigoso e da prudência e de nossa responsabilidade com gerações futuras, uma vez que Victor cria um ser jamais visto, com forças destrutivas sobre humanas.

Com toda a certeza, trata-se de um dos meus livros favoritos e por isso indico insistentemente sua leitura.


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Uma boa leitura e até a próxima resenha.